Vuelvo al Sur como se vuelve siempre al amor.
Gotan Project.
Desde de que pisei naquela cidade nada, nunca mais foi o mesmo. Nem meus dedos, nem meus olhos, nem meu nariz. Nada. Meus cabelos estranham cada dia de umidade que ainda tenho que enfrentar até conseguir entender que minhas moléculas foram alteradas pelo ar frio de um lugar. Se tive um lar ou se tenho um lar, não sei. Mas toda vez que o verbo “voltar” chega a ponta da minha língua o que o acompanha não é meu passado distante, mas sim o passado depois de meus pés terem pisado o chão dessa cidade que modificou minhas moléculas.
Uma cidade que ativamente modificou minha maneira de olhar e de falar. Mudou meu comportamento. Agora ando por outras ruas de outra cidade sentindo cheiros que não são daqui, gostos que não são daqui, numa saudade física que machuca por dentro e me faz chorar com os braços, com a língua. Meus olhos perdidos ficam em busca de um céu azul que não seja tropical, um asfalto que não seja este, cheio de borracha e vidro, cheio de pés e marcas de roda.
Busco pessoas que respeitem meu silêncio e se entreguem às minhas lágrimas, por mais que se mantenham pra sempre distantes de mim. Quero o céu do avesso de cores no chão e escuridão no topo. Sem lua, sem chuva, com ventos frios e rajadas de pessoas pelas ruas. Sonho com as entranhas dessa cidade com a mesma forma com a qual desejo seus braços de rio.
Já não suporto mais não sentir aqueles cheiros, aqueles ares frios. Há dias em que não aguento levantar porque me sinto tomada por outro jeito de falar que ninguém mais entende. Quero levantar e abrir uma porta que não seja a minha. Quero um quarto com janela com mar de prédios e mar de azul. Mar sem nuvens.
Te quiero, Sur.